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“Não quero que ninguém pense de mim mais do que em mim vê ou de mim ouve!”
Apóstolo Paulo (2 Cor 12.6b)
"Somos feitos de carne, mas temos que viver como se fôssemos de ferro."
Sigmund Freud
Quando o pessoal do Caminho se encontra, considero absolutamente estratégico desenvolver Mensagens que aprofundem em nós a consciência do Evangelho de Jesus, de modo que, o Espírito da Verdade, que nos guia a toda verdade, possa iluminar a todos, des-vendando dentro de cada um o Conhecimento da Graça, que é experiência existencial, psicológica e espiritual, e não uma doutrina, uma tese ou uma teologia.
Aqui em Santos, nós mal nos conhecemos – é tudo muito incipiente. E eu pouco sei da etapa que cada um se encontra em relação à absorção do Evangelho. O que pregar a cada Domingo, então?
Enquanto me arrumava para ir ao Caminho, institui para mim uma referência, um guia para me orientar, para me balizar em relação aos nossos objetivos no Ensino.
Ganhei a convicção de que subo naquele humilde púlpito com duas únicas intenções:
1) Ajudar aos CRENTES a se tornarem GENTE!
2) Ajudar as GENTES a se tornarem CRENTES!
Eu sei que é uma síntese simplória demais. E sei que para alguns parece chocante e presunçoso tal desejo feito oração e pregação. Não digo que isso é tudo, mas me parece ser a minha parte. Negar tal necessidade é fugir do óbvio; ela é tão evidente, que julgo ser propício tal ênfase.
Eu peço, portanto, sua atenção ao raciocínio transcrito abaixo.
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1) Ajudar aos CRENTES a se tornarem GENTE!
Puxa, creiam-me: os evangélicos precisam ser 'humanizados'. Estou certo de que assim feitos, Deus haveria de ser cada vez mais redundantemente Divino em cada cristão!
Hoje a maioria das pessoas se convertem à “igreja”, não a Cristo! É por esta razão que os conteúdos do Evangelho da Graça estão tão adulterados no Cristianismo. E pior: Parecemos não enxergar a caricaturização de Jesus que nos é proposta dos púlpitos. É um Jesus de terceira mão que a maior parte dos crentes segue. "O Jesus que nos foi apresentado é um 'composer' do Jesus da 'igreja', o qual é moldado para ficar 'parecido' com o grupo religioso que se pertence ... e é uma fabricação feita para validar as teses do grupo" - segundo o Caio. E tal “Jesus” não faz nada de bom ou de mal que qualquer outro condicionamento mental também não realize.
Hoje, na igreja evangélica, primeiro o indivíduo tem que ser salvo do "Jesus inventado"... primeiro precisa ser salvo do Jesus dos Evangélicos para, então, conhecer o Jesus do Evangelho.
De modo que, o primeiro alvo da pregação (CRENTE EM GENTE) tem relação com aquilo que se percebe na maioria dos cristãos: uma profunda descaracterização da individualidade de pessoas que se submeteram aos mais malucos sistemas religiosos de aprisionamento d´alma e do espírito.
O pessoal fica todo enquadrado, maquiado, mascarado, robotizado, oprimido e, tragicamente, tudo em nome de Jesus – fingindo ter compreendido o que significa Vida em Abundância, enquanto também se camufla: a tristeza que se carrega com sorriso forçado e com a adrenalina cultual, o amargor com que se deita e levanta, com palavras de guerra; e o desamor para com o próximo com plásticas de comunhão na hora do culto! Não é assim? Ora, onde não é assim, está feita a exceção!
O que os cristãos precisam saber é que Não há melhor lugar para conhecer nossa própria verdade, senão no solo seguro da Graça de Deus, onde não há mais condenação para os que estão em Cristo Jesus! Há somente aceitação e renovação! Primeiro se percebe tal qual se é; depois o Espírito promove seus frutos em nós, enchendo a vida de paz, alegria e amor.
Mas, paradoxalmente, os crentes têm medo de se enxergar como gente. O pastor Caio diz que desse ponto em diante, a maioria dos cristãos “confunde descanso e pacificação com vagabundagem existencial. Crescer em entendimento e experiência da Graça de Deus na presente existência, demanda de nós esforço, compromisso, e busca disciplinada de desenvolvimento interior, e que é fruto de auto-exame, e de auto-discernimento, tarefa que seria insuportável sem um coração pacificado pela Graça.”
Então, para corresponder o quanto antes à norma massificada, as pessoas artificializam o agir de Deus, operando em si mesmas uma ‘transformação de ocasião’, uma conversão para fins eclesiásticos, uma supressão de tudo que choca a religião, uma espiritualidade ‘de fachada’, mas compatível com a média comunitária. Essa falsificação do lavar regenerador e renovador do Espírito dá conta de instituir mudanças para fora do ser, exclusivamente comportamentalista, baseadas no fazer e mensuradas pelo desempenho, sem seu correspondente interior de crescimento na Graça e na Verdade. É a figueira sem frutos, mas adornada de folhagens, que camuflam a nudez própria do outono da vida.
No entanto, quando o cidadão se percebe assim, tendo Deus – em Sua misericórdia – permitido que ele caísse em si e, finalmente, olhasse para dentro, então o que acontece é que ele não se reconhece, e se assusta, se escandaliza, se choca, se culpa, se penitencia! Não sabe porque “depois de tanto tempo de evangelho” o que habita seu interior são as mesmas raivas, angústias e escravidões de outrora, mas agora travestidas de ‘santidade exterior’; existem os mesmos bichos vociferando rancores e preconceitos, só que agora legitimados pela interpretação adaptada da Bíblia, que nos dá a entender que somos seres superiores, triunfalistas, uma raça cheia de méritos em ser santa, um povo que se “acha!” por ser designado de propriedade exclusiva de Deus, sem qualquer compreensão que, em havendo tal eleição, ela é fruto de pura Graça, é anterior a nós mesmos, sendo anterior a qualquer coisa que tenhamos feito ou deixado de fazer, é anterior, inclusive, ao nosso próprio nascimento. Aliás, essa coisa toda é desígnio de Deus desde antes da fundação do mundo, quando o Cordeiro foi imolado para redenção de todo ser criado.
Quanto a mim, Marcelo, não carrego ilusões... não estou esperando ninguém virar anjo, ninguém levitar a 10 cm do chão, ninguém ser levado pela carruagem de fogo por possuir uma santidade que já não consegue viver neste mundo. Ao contrário, posso afirmar que meu esforço pessoal é na tentativa de não me chocar com mais nada, posto que não há nada que você tenha feito que, ao menos em potencial, não exista em mim também.
Gente é gente! Diante disso, fica aqui declarado: Está suspenso o meu direito de me escandalizar com o que quer que seja verdade sobre você. Prefiro caminhar com você a partir de suas lutas e temores do que fingirmos que não trazemos essas coisas embutidas no cerne de nossas tribulações e dramas de vida. Não lido com robôs, nem com super-crentes ufanistas, nem me interesso por comportamentos performáticos só para me dar a sensação de que tudo está sob controle na comunidade dos crentes “sob minha supervisão”.
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E quanto aos não-cristãos?
O que significa 2) Ajudar as GENTES a se tornarem CRENTES?
Ora, a última coisa que eu desejaria aqui era propor que alguém, em se fazendo crente, deixasse de ser gente, repetindo o ciclo acima exposto.
Não precisa ser evangélico para ser gente do Evangelho.
No Caminho da Graça ninguém vai simplesmente virar evangélico. Não.
Não lhes farei se submeter a minha própria cultura religiosa,
Não os julgarei e não lhes direi palavra acerca da necessidade de manter a boa reputação do Caminho, posto que nem Jesus se preocupou com isso;
Não lhes imporei o tutelamento das listas sagradas dos evangélicos, nem me utilizarei da Ceia do Senhor como instrumento de punição e disciplina.
Não lhes porei um peso às costas que perverta a experiência do “jugo leve e fardo suave” do Senhorio de Cristo sobre eles;
Não lhes ‘negarei’ as coisas lícitas, nem sou criança para estimular liberdades que são pré-fabricadas para chocar e “colocar pedra de tropeço ou obstáculos no caminho do irmão” (aliás, isso é coisa de crente que pensa que conhece a Graça);
Mas, não se enganem comigo, não lhes proibirei a bebida, o cigarro, a música, a dança, as festas, os namoros com ‘não-crentes’, o divórcio, o casamento sem papel passado, mas sempre e insistentemente devo adverti-los e exortar a todos contra a embriaguez, a ‘des-edificação’, a dissolução, a infidelidade, as “desavenças e invejas”, os extremos, os prazeres perversos e a inconveniência para vida.
Mesmo assim, não decidirei nada por ninguém – só corrigindo com brandura os mais fracos, oferecendo conselhos, caminhos e opções compatíveis com o espírito da Palavra.
Não lhes ensinarei – conforme aprendi – a coar os mosquitos e engolir os camelos! Se a transformação é uma porta que só se abre por dentro, então não serei eu a arrombá-la! Longe de mim!
Em suma, o que eu quero dizer é o seguinte: Em se considerando que os cristãos têm se comportado como o filho mais velho da parábola, assumi-se o fato de que Deus tem muitos filhos mais novos por aí, em lugares existenciais distantes da Casa do Pai... muita gente...Gente que não sabe que é filho... ou que, em sendo filho, optou por viver independente de Deus, marginalizado do amor do Pai, longe da sombra do pertencimento, e em sendo assim, entregues a si mesmos, às torpezas e dissoluções, que cada vez mais entortam e diluem o ser, e nos colocam em descaminhos vários até o ponto de uma existência medíocre, alimentada com a lavagem dos porcos, em estado de perdição, sem sentido para a vida, sem saber de onde vem e para onde vai, sem esperança, sem horizonte, sem nada que garanta um significado para vida além da satisfação dos instintos primais e dos elementos de sobrevivência diária.
O dia que esse pessoal descobrir o Evangelho, tudo muda! Quando aceitarem por Fé que Jesus Cristo é Senhor, quando confessarem com a boca e crerem com o coração, então há o Novo Nascimento... O dia que eles souberem que o amor de Deus permanece intocável, que o caminho de volta está aberto, que há perdão disponível “para o mais vil pecador”, que o Pai os recebe em festa, que se pode ser achado, que se pode reviver para Deus, então... Ah! Então as coisas velhas passam! Tudo se faz novo! Surge uma nova criatura! E agora tudo que se é, se é em Cristo, posto que em Cristo se está para sempre.
Essa é a Boa Nova: Deus já está reconciliado com o mundo, não imputando aos homens suas transgressões! Louvado seja seu Nome! Cabe-nos aceitar a reconciliação proposta na Cruz, e viver a esperança proposta na Ressurreição, com temor e tremor diante Dele.
É isso: crente em gente, gente em crente! Simples assim...
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E nós, a gente-crente do Caminho?
Ora, Deus nos fez agentes dessa Reconciliação, como se por nós Deus estivesse rogando ao mundo e a igreja que se reconcilie com Ele, afim de receber nessa vida ainda os benefícios do Evangelho de Cristo, que é poder de Deus para salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu, e depois do gentio! Um e outro! Ambos! O evangélico e o não-evangélico, o crente e o ‘mundano’, o cristão e o ateu. Não é uma pregação de superioridade triunfalista, de donos da verdade, de gente soberba.
Ao contrário, “evangelizar é um faminto dizer para o outro faminto que encontrou a Casa do Pão!” E é isso que, a priori, estamos fazendo nas reuniões para encontro e pregação da Palavra, sob o emblema do Caminho da Graça.
E em falar nisso, não custa novamente destacar: O Caminho da Graça não é o Caminho da Graça. (Eita!) Verdade! O Caminho da Graça não é o que se faz dentro de quatro paredes (onde os cristãos gostam de se sentirem cristãos).
O Caminho da Graça se faz na vida, em Jesus, com Jesus e por Jesus. Ele é o Caminho, e toda manifestação Dele em nós é AMOR ao PRÓXIMO! Já o lugar que carrega esse nome é só uma Estação, uma parada, um posto de abastecimento, um lugar para ministração comunitária da Palavra, da Adoração, da Mesa do Senhor, dos dons ministeriais, das curas e dos depoimentos que fortalecem a fé de quem caminha.
De forma que, somos todos Embaixadores de Deus e Ministros da Reconciliação no meio do mundo, às portas do inferno, debaixo do sol, no trabalho, na escola, na esquina, em casa e em todo lugar onde estiver gente que é Sal da Terra e Luz do Mundo em Cristo. E sem Ele nada podemos fazer, visto que nem o melhor de nós tem brilho próprio, mas gravita ao redor da Estrela da Manhã, que “ao ser erguida (levantada), atraiu todos a Si”, com o magnetismo irresistível de Seu amor incondicional.
Somos, portanto, devedores a homens, mulheres, adolescentes e jovens de todas as tribos, prostitutas, homossexuais, bissexuais e transexuais, fiscais de tributos, empresários, motoboys, políticos e donas de casa, ateus, católicos, espíritas e esotéricos, ricos e pobres, intelectuais e broncos, casados, descasados, solteiros, amasiados, juntados, separados, divorciados, viúvos... e a todos quantos se encontram carecidos da Glória de Deus porque não conhecem em seus corações a conversão que o Evangelho realiza por meio da fé, através da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo – único mediador entre Deus e os homens, que a todos convidou dizendo: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei. Aprendei de mim, que Sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas.”
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Sei que alguns identificaram nas entrelinhas um liberalismo herético e outros, nas mesmas entrelinhas, detectaram um moralismo velado.
Paciência...
Outra coisa não quero!
Sigo fascinado com o poder de restauração do Evangelho: Depois que você aprende a ser gente, nunca mais volta atrás!
Depois que se abandona a síndrome do desempenho para conquistar amores condicionados, ser um ser humano cai muito bem em nós, e vivemos em gratidão Aquele que, ao nos converter para Si, nos devolveu para nós mesmos, agora livres de si mesmos.
Somos devolvidos para a vida livres de instintos dominantes, das pulsões sufocantes, das libertinagens da insegurança, da embriaguez como refúgio, do legalismo como justiça-própria, até da ‘oração’ como ansiedade, do consumismo anestesiante, e também do medo, do pavor, do cansaço de existir, da falta de sentido, do excesso de sensações, da insatisfação gerada pelos prazeres desenfreados, do ascetismo orgulhoso, da retórica vazia, do academicismo das encenações religiosas, das complicações eclesiásticas, da vontade de mandar, de controlar e de ser controlado!
“Eu vos aliviarei...”
Ai que bom ser gente!
Na mesma Graça,
Marcelo Quintela
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